domingo, 23 de agosto de 2009

O Reino das Florestas


Por Evaristo Eduardo de Miranda


Há 8 mil anos, o Brasil possuía 9,8% das florestas mundiais. Hoje, o país detém 28,3%. Dos 64 milhões de km2 de florestas existentes antes da expansão demográfica dos humanos, restam menos de 15,5 milhões, cerca de 24%,segundo estudo da Embrapa Monitoramento por Satélite sobre a evolução das florestas mundiais. Dos 100% das florestas originais, a África mantém hoje 7,8%, a Ásia 5,6%, a América Central 9,7% e a Europa – o pior caso – apenas 0,3%. O Brasil ainda detém 69,4% de suas florestas originais. O paradoxo é que, em vez de ser reconhecido pelo seu histórico de manutenção da cobertura florestal, o país é severamente criticado pelos campeões do desmatamento e alijado da própria memória.


Na maioria dos países, a defesa da natureza é fenômeno recente. No Brasil, vem de longa data. Desde o século XVI, as Ordenações Manuelinas e Filipinas estabeleceram regras e limites para exploração das terras. Havia listas de árvores protegidas por lei, o que deu origem à expressão madeira-de-lei. O Regimento do Pau Brasil, de 1600, estabeleceu o direito de uso sobre as árvores e não sobre as terras. Consideradas reservas florestais da Coroa, não podiam ser destinadas à agricultura. Essa legislação garantiu a manutenção sustentável das florestas de pau-brasil até 1875, quando entrou no mercado a anilina. Ao contrário do que muitos pensam, a exploração racional do pau-brasil manteve boa parte da Mata Atlântica até o final do século XIX e não foi a causa do seu desmatamento, fato bem posterior.

Em 1760, um alvará de dom José I protegeu os manguezais. Em 1797, uma série de cartas régias consolidou as leis ambientais: pertencia à Coroa toda mata à borda da costa, de rio que desembocasse no mar ou que permitisse a passagem de jangadas transportadoras de madeiras. A criação dos Juízes Conservadores, aos quais coube aplicar as penas previstas na lei, foi outro marco em favor das florestas. E surgiu o Regimento de Cortes de Madeiras com regras rigorosas.

Em 1808, d. João VI criou o Real Horto Botânico do Rio de Janeiro, com mais de 2.500 ha, hoje republicanamente reduzido a 137 ha. Em 1809, ele deu liberdade aos escravos que denunciassem contrabandistas de pau-brasil. Em 1830, o total desmatado no Brasil era inferior a 30 mil km2. Hoje corta-se mais do que isso a cada dois anos. Em 1844, o ministro Almeida Torres propôs desapropriações e plantios de árvores para salvar os mananciais do Rio de Janeiro. Em 1861, por decreto de d. Pedro II, foi criada (e plantada) a Floresta da Tijuca. A política florestal da Coroa portuguesa e brasileira logrou manter as florestas preservadas até o final do século XIX. O desmatamento brasileiro é fenômeno do século XX. Em São Paulo, Santa Catarina e Paraná, a marcha para o Oeste trouxe grandes desmatamentos. As matas de araucárias foram entregues pela República aos construtores anglo-americanos de ferrovias, com as terras adjacentes.

Na Amazônia, a maior ocupação ocorreu na segunda metade do século XX. Há 30 anos, o desmatamento anual varia de 15 a 20 mil km2, com picos de 29 mil e 26 mil km2 em 1995 e 2003. Nos últimos dois anos, passou a 11 mil km2, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O desmatamento brasileiro não produziu desertos. Como na Europa, as florestas cederam lugar à agricultura moderna e competitiva, à pecuária, às florestas plantadas e às cidades. O Brasil é um líder agrícola mundial e não precisa derrubar uma árvore para dobrar sua produção. O Brasil é um dos países que mais mantém sua cobertura florestal. Com invejáveis 69,4% de suas florestas primitivas, o Brasil – verdadeiro reino das florestas – tem
grande autoridade para tratar desse tema face às críticas dos campeões do desmatamento mundial.

Evaristo Eduardo de Miranda é doutor em ecologia, chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, autor do livro “Quando o Amazonas corria para o Pacífico” (Ed. Vozes) e diretor de Instituto Ciência e Fé (
mir@cnpm.embrapa.br
This e-mail address is being protected from spambots, you need JavaScript enabled to view it
). Disponível em: http://www.historiaambiental.org/. Acesso em 23 de agosto de 2009.

sábado, 22 de agosto de 2009

Environmental History: conceitos




Por Douglas Barraqui


Como poderíamos, então, conceituar a Environmental History (história ambiental)? Bem, trarei aqui alguns dos principais autores, dessa "recém chegada" área da produção do conhecimento, para nos dar devidas e importantes considerações conceituais, e deixarei a minha percepção, como pesquisador navegando em novos mares, por último.


J. Donald Hugles, autor do livro Ecology in Ancient Civilizations (Ecologia nas civilizações antigas), nos diz:


"Environmental history, as a subject, is the study of how humans have related, to the natural world through time. As a method, it is the application of ecological principles to history." [1]


“História ambiental, como um sujeito, é o estudo de como os seres humanos têm relacionado, com mundo natural através do tempo. Como um método, é a aplicação de princípios ecológicos para a história”


O professor da Universidade de Kansas, considerado um dos fundadores e principal figura no campo da Environmental History, Donald Worster, assim assinala:


"its principal peal became of deepening our understanding of how humans have been affected by their natural environmental through time and, conversely, how they have affected that enviroment and with that results.” [2]


sua principal meta é aprofundar nossa compreensão de como os seres humanos têm sido afetados pelo seu ambiente natural através do tempo e, inversamente, como eles têm afetado o ambiente e com que resultados”


William Beinart, aponta que:


"Environmental history deals with the various dialogues over time between people and the rest of nature, focusing on reciprocal impacts.” [3]


História ambiental lida com os vários diálogos ao longo do tempo entre as pessoas e a natureza, enfocando a reciprocidade de impactos”


Joachim Radkau, historiador alemão, autor do livro Nature and Power: A Global History of the Environmental (Natureza e Poder: Uma História global do Meio Ambiente) argumenta que essa nova disciplina:


"investiga cómo el ser humano mismo ha influido en estas condiciones y cómo reaccionó ante las alteraciones." [4]

investiga como os seres humanos têm influenciado estas condições (ecológicas) e como reagem frente às mudanças.“


Há ainda outros nomes, com suas devidas considerações a nos fornecer, que eu aqui irei acrescentar na medida das possibilidades das descobertas. Finalizo com meu entendimento a respeito de História Ambiental tendo em mente tudo que absorvi de conhecimento, que ainda considero ínfimo, até o presente momento. Portanto, Para mim, Environmental History (História Ambiental) é: o encontro do meio natural com o homem e do homem com seu meio natural no tempo.


Notas:

[1] HUGHES, J. Donald. Ecology and Development as Narrative Themes of World History. Environmental History Review 19:1-16 (Spring 1995) Pan's Travail, London, 1994.Pg. 3.

[2] WORSTER, Donald. Ed. The Ends of the Earth: Perspectives on Modern Environmental History. Cambridge; New York: CambridgeUniversity Press, 1988, p. 290-291

[3] HUGHES, J. Donald. Ecology and Development as Narrative Themes of World History. Environmental History Review 19:1-16 (Spring 1995). Pan's Travail, London, 1994.Pg.1.

[4] MOLINA, Gonzalez. Historia y Ecologia. 1993, p. 121.

Bibliografias:

HUGHES, J. Donald. Ecology and Development as Narrative Themes of World History. Environmental History Review 19:1-16 (Spring 1995) Pan's Travail, London, 1994.

MOLINA, Gonzalez. Historia y Ecologia. 1993.

WORSTER, Donald. Ed. The Ends of the Earth: Perspectives on Modern Environmental History. Cambridge; New York: CambridgeUniversity Press, 1988.

Environmental History e Sua História





Por Douglas Barraqui



A década de 1970, em plena guerra fria, que começa a se formular, em meio a conferências que discutiam crises ambientais, a Environmental History (História Ambiental). Indo muito mais além de um mero movimento ambientalista no ceio da historiografia, tinha um objetivo moral, com forte compromisso político, mas, ao passo que amadureceu em seu eixo, transformou-se em um importante e fundamental empreendimento acadêmico [1] para produção do conhecimento.


É em 1970 que surgiria, na Universidade da California em (Santa Barbara), o primeiro curso “American Environmental History” [2], e seriam significativos, a fim de aparar as arestas desse novo campo, os estudos de Roderick Nash: “The state of Environmental History” (A situação da história ambiental) [3] eAmerican Environmetal History: A new teaching frontier” (Historia Ambiental Americana: Uma fronteira nova doutrina) [4]. A Environmental history, portanto, é uma criação do âmbito científico universitário americano.

Ainda em 1970 seria criado o dia da terra (todo dia 22 de abril) e o EPA – Environmental Protection Agency (Agencia de Proteção Ambiental). Era a nova historiografia indo de encontro à sociedade [5]. Levanta-se, também, a dúvida referente à historicidade do movimento, de caráter ecológico, que manejou um novo olhar para o passado do homem e sua interação com seu meio natural [6].

Na Europa, a escola dos Annales com sua história problema, saqueando as disciplinas do homem com a interdisciplinaridade, em 1974, lança a revista “Histoire et environmement”, dedicando uma atenção especial a nova temática. Marc Bloch, Lucien Febvre e Fernad Braudel, demonstravam sinceras simpatias com a relação homem e seu espaço natural: Bloch com estudos sobre a vida rural na França; Febvre em seus textos de geografia social e Braudel com sua concepção de que o ambiente molda a vida humana, destaque para a sua obra sobre o Mediterrâneo [7].

Em 1976 é criada a “American Society for Environmental History” (Sociedade Americana de História Ambiental) e também a revista “Environmental Review” (Revisão Ambiental) [8], lançando uma interpretação ecológica da historiografia [9]. Então, em 1990, viria o reconhecimento definitivo da Environmental History, na mesa redonda organizada pelo “the Journal of American History” (Jornal Americano de História).

A Environmental History não pode ser encarada como um mero movimento ambientalista no ceio da historia, um modismo passageiro e tão pouco simplesmente como uma história do ambientalismo. É uma denuncia publica? Sim, mas é também um ramo de produção do conhecimento com fundamentais reflexões e embates filosóficos e historiográficos. Significando, portanto, um esforço para proporcionar à historiografia maior campo e amplitude narrativa.


Notas:


[1] WOSTER, Donald. The ends of the Earth – perspectives on modern environmental history. Cambridge, University Press, 1988. Traduzido por: José Augusto Drummond do original “Doing environmental history”. Pg. 01. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/85.pdf . Acesso em 27 agosto de 2009.

[2]MERCHANT, Carolyn. Major Problems in American Environmental History. Lexington, 1983.

[3] WOSTER, Donald. The ends of the Earth – perspectives on modern environmental history. Cambridge, University Press, 1988. Traduzido por: José Augusto Drummond do original “Doing environmental history”. Pg. 02. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/85.pdf . Acesso em 27 agosto de 2009.

[4] NASH, R. American Emvironmental History: A new teaching frontier. Pacific Historical Review, 363 (1974), 362-372.

[5] WALLACE, K. No turning back. N. York, 1994, Pg. 28-55.

[6] WALL, Derek. Green History. N. York, 1994. Pg. 1-3.

[7] WOSTER, Donald. The ends of the Earth – perspectives on modern environmental history. Cambridge, University Press, 1988. Traduzido por: José Augusto Drummond do original “Doing environmental history”. Pg. 03. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/85.pdf . Acesso em 27 agosto de 2009.

[8] A Revista sofreu várias transformações no seu título. A primeira fase da publicação até 1983 foi coordenada por John Opie, altura em que lhe sucedeu J. Hughes.

[9] MERCHANT, Carolyn. Major Problems in American Environmental History. Lexington, 1983.


Bibliografias:

MERCHANT, Carolyn. Major Problems in American Environmental History. Lexington, 1983.

NASH, Roderick. American Emvironmental History: A new teaching frontier. Pacific Historical Review, 363 (1974), 362-372.

WALLACE, K. No turning back. N. York, 1994, Pg. 28-55.

WALL, Derek. Green History. N. York, 1994. Pg. 1-3.

WOSTER, Donald. The ends of the Earth – perspectives on modern environmental history. Cambridge, University Press, 1988. Traduzido por: José Augusto Drummond do original “Doing environmental history”. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/85.pdf . Acesso em 27 agosto de 2009.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O que é Environmetal History ?

A Environmental History (História Ambiental) é um ramo da produção do conhecimento dentro da disciplina história: 


“[..] como um sujeito, é o estudo de como os seres humanos têm se relacionado, com o mundo natural através do tempo; como um método, é a aplicação de princípios ecológicos para a história” [1]. “Sua principal meta é aprofundar nossa compreensão de como os seres humanos  têm sido afetado pelo seu ambiente natural através do tempo e, inversamente, como eles têm afetado o ambiente e com que resultados."[2]
 






Notas:

  1. HUGHES, J. Donald. Ecology and Development as Narrative Themes of World History. Environmental History Review 19:1-16 (Spring 1995) Pan's Travail, London, 1994. Pg. 3.
  2.  WORSTER, Donald. Ed. The Ends of the Earth: Perspectives on  modern  environmental  history. Cambridge; New York: Cambridge University Press, 1988. Pg. 290-291.